31 março, 2009

Sailing - Rod Stewart

Can you hear me? Can you hear me?
Through the dark night, far away.
I am dying, forever crying,
To be near you, who can say?

We are sailing, we are sailing,
Home again across the sea.
We are sailing stormy waters,
To be near you, to be free.

A voz


Da tua voz
o corpo
o tempo já vencido

os dedos que me
vogam
nos cabelos

e os lábios que me
roçam pela boca
nesta mansa tontura
em nunca tê-los...

Meu amor
que quartos na memória
não ocupamos nós
se não partimos...

Mas porque assim te invento
e já te troco as horas
vou passando dos teus braços
que não sei
para o vácuo em que me deixas
se demoras
nesta mansa certeza que não vens.

(Maria Teresa Horta)

pedinchando



tenho que ir ver o que escreveu o Rodrigo sobre os dias úteis. eu bem sei que não sou a única a ver a vida de uma maneira menos ortodoxa. se o fosse seria a pessoa mais solitária do planeta. o facto é que também tenho que ler o que escrevi em dias úteis porque se calhar agora já não são assim... mas devem ser. não costumo ser um catavento embora me orgulhe de fazer parte das pessoas que têm opiniões para mudar. e é por não ter mudado de opinião em relação aos dias úteis que decidi hoje fotografar o que sobrou da feira popular de Lisboa e do teatro Vasco Santana. todos os dias dou de caras com aquele espectáculo completamente degradante. quando será que aquele assunto é resolvido? o mais certo é construírem ali mais uns mamarrachos para acabar de vez com o que ainda resta dos belos edifícios da avenida da república em Lisboa. e o meu dia tornou-se mais útil porque todos os dias vejo o trabalho que os calceteiros vão fazendo no desastre que ficou do derrube da passadeira eléctrica que existiu um dia entre Alcântara Mar e parte do percurso para Alcântara Terra. e por falar em estações e porque as palavras são como as cerejas sempre vou pedindo aqui aos responsáveis da CP que os acessos das estações que têm escadas sejam transformados em rampas. isto facilitará o acesso de cadeiras de rodas mas também de quem começa a aproveitar o facto de não pagar bilhete de bicicleta no comboio suburbano para usar este óptimo veículo de transporte. dirão que estou a puxar a brasa à minha sardinha. claro que sim. afinal pago impostos há tantos anos e nunca pedi nada. e já agora peço também peço ao senhor Isaltino que ponha mais estacionamentos para bicicletas na estação da CP de Oeiras porque os que lá estão já não chegam para as encomendas. e já que se pretende apostar na bicicleta como meio de transporte que se aposte como deve ser. pensando em todos os obstáculos. é que para apanhar o comboio na direcção de Cascais em Alcântara Mar o ciclista terá mesmo que andar com a bicicleta às costas... e os deficientes em cadeiras de rodas não têm escolha a menos que alguém lhes pegue ao colo e leve a cadeira às costas...

30 março, 2009

Every Breath You Take - Sting (clica aqui)

I'll be watching you

Since you've gone
I been lost without a trace
I dream at night
I can only see your face
I look around but it's you
I can't replaceI feel
so cold and I long
for your embrace
I keep crying baby, baby, please

Mesa dos sonhos


Ao lado do homem vou crescendo

Defendo-me da morte quando dou
Meu corpo ao seu desejo violento
E lhe devoro o corpo lentamente

Mesa dos sonhos no meu corpo vivem

Todas as formas e começam
Todas as vidas
Ao lado do homem vou crescendo

E defendo-me da morte povoando de novos sonhos a vida.

(Alexandre O'Neill)

para variar


pois é querido Filipe. mas sabes há males que vêm por bem. porque pelos vistos chegámos à mesma hora e tu terias que fazer os meus 5 km em vez de te esticares na esplanada... por muita pena que tenha de não ter estado um bocado à palheta contigo confesso que não me sentiria muito bem por te obrigar a fazer um caminho tão grande. porque a beleza das coisas está na importância que lhes damos. e eu acho que tu és muito mais contemplativo que eu... não que eu não o seja mas prefiro contemplar em andamento percebes? ainda hoje os meus colegas riam por eu dizer que estou a perder o speed. é o que eu sinto. faço os possíveis por desacelerar juro que faço mas então... vale que não estou sozinha e assim não me sinto tão culpada. mas gostava de te ter encontrado. pensei que te tivesses levantado uma hora mais tarde como aconteceu comigo. mas pelos vistos sou das poucas pessoas que está farta de ser roubada e por isso decidiu pôr um ponto final no assunto e seguir o conselho dos mais novos que não parece mas também têm muito que ensinar. e tenho aprendido tanta coisa balha-me deuje. esta gente nova sabe viver. aprendi por exemplo que não preciso passar a roupa a ferro. para além de ganhar tempo poupo energia... uma muito boa! levei algum tempo até me consciencializar de que era capaz. pois sou. por isso já quis ensinar o truque mas há quem não esteja disposto e prefira juntar roupa à toa sem passar nem guardar. este novo sistema é realmente muito económico uma vez que poupa tempo e dinheiro... só não dá para alimentar as fantásticas conversas de dona(o)s de casa. não sei de que vinha falar mas falei de coisas bem diversas. para variar.

29 março, 2009

Navegante - João Afonso e Amélia Muge

do longe se faz mais perto
se perto eu quero estar
para te ver vou ao deserto
volto a tempo do jantar...
Vou falar contigo
do mundo azul nas ondas do mar
num cantar de amigo
invento estórias para te contar.

Aqui onde se espera


Aqui onde se espera
- Sossego, só sossego -
Isso que outrora era,

Aqui onde, dormindo,
-Sossego, só sossego-
Se sente a noite vindo,

E nada importaria
-Sossego, só sossego-
Que fosse antes o dia,

Aqui, aqui estarei
-Sossego, só sossego -
Como no exílio um rei,

Gozando da ventura
- Sossego, só sossego -
De não ter a amargura

De reinar, mas guardando
- Sossego, só sossego -
O nome venerando...

Que mais quer quem descansa
- Sossego, só sossego -
Da dor e da esperança,

Que ter a negação
- Sossego, só sossego -
De todo o coração ?

(Fernando Pessoa)

28 março, 2009

um domingo para descansar


devia sentir-me pronta para mais uma semana de trabalho. não sinto. agora é que eu devia tirar umas férias e aproveitar a embalagem com que estou para descansar. é que normalmente não consigo tomar esta atitude de descanso. percebo o quanto ando cansada para me deitar a dormir e deixar para depois as obrigações. esta noite consegui dormir 9 horas deitei-me antes da meia noite pela hora de ontem e acordei depois das 10 pela hora de hoje. e não foi que não me apetecesse continuar na cama mas afinal o mar também me chamava e por isso depois de me alimentar e arranjar saí em direcção ao paredão. por baixo levava um fato de banho na esperança de que o tempo hoje estivesse melhor... mas o vento frio continua e percorrer os 5 km de paredão não chegou para aquecer debaixo de um casaco desportivo de algodão. não vi ninguém das pessoas que me acostumei a ver por ali. o homem que saiu de um filme de terror ausente o atleta das peúgas brancas até ao joelho ausente o casal que se passeia e senta na aAzarujinha antes de voltar pelo mesmo caminho ausentes. apenas vi o homem dos calções e pólo às riscas. toda a gente deve ter seguido à risca o dia a dia e perderam uma hora de sono. eu não tinha condições para dar de barato uma hora de sono. paciência. vi um homem que deve ter sofrido um acidente com os braços enrolados em braçadeiras elásticas e a cara completamente coberta por um lenço... suponho que a terá queimado. passei por ele duas vezes... fiquei a pensar se será algum dos que por ali costumo ver... pensando bem aquele andar não me é completamente desconhecido mas as sandálias que hoje trazia calçadas não me são familiares... talvez tenha apenas mudado de sandálias...

Dreamer - Supertramp (clica aqui)

Take a dream on a Sunday
Take a life, take a holiday
Take a lie, take a dreamer
dream, dream, dream, dream, dream along...

Falas de civilização


Falas de civilização, e de não dever ser,
Ou de não dever ser assim.
Dizes que todos sofrem, ou a maioria de todos,
Com as cousas humanas postas desta maneira.
Dizes que se fossem diferentes, sofreriam menos.
Dizes que se fossem como tu queres, seria melhor.
Escuto sem te ouvir.
Para que te quereria eu ouvir?
Ouvindo-te nada ficaria sabendo.
Se as cousas fossem diferentes, seriam diferentes: eis tudo.
Se as cousas fossem como tu queres, seriam só como tu queres.
Ai de ti e de todos que levam a vida
A querer inventar a máquina de fazer felicidade!

(Alberto Caeiro)

ainda assim não mudava coisa nemhuma


às vezes as contas saem-nos furadas. ontem estive na praia e estava-se tão bem com a praia quase deserta acho que ainda adormeci. de resto ontem foi dia de dormir. já tinha saudades de dormir 8 horas de seguida. depois à tarde uma longa sesta de 3 horas e esta noite mais 8 horas ou pouco menos... tenho saudades de dormir 10 horas e de me levantar como se não tivesse passado um só dia do meu nascimento. com essa sensação tão boa de acabadinha de nascer e pronta para enfrentar o mundo. e agora me lembro hoje vi "into the wild" e enquanto via pensava que era o que eu devia ter feito o que sempre tive vontade de fazer porque raio fui arranjar uma vidinha igual à de toda a gente. porque raio tinha que me apaixonar pelo tipo errado casar-me com outro tipo também errado ter filhos divorciar-me ser avó e sentir-me presa pela obrigação de ser filha e ser mãe... porque raio não parti de mochila às costas sem deixar direcção como queria... porque dei ouvidos a quem viria a abandonar-.me à minha sorte como se eu nunca tivesse existido como se eu não fosse aquela que apresentava como filha a toda agente. porque fui ouvir quem só se lembrou de mim na hora de morrer? porque é que não segui o meu instinto como sempre faço e fui acreditar que podia viver a vida que queria rodeada de mar por todos os lados... é verdade que consegui manter ao longo da vida o desapego do material. uma casa serve para viver não precisa de grandes luxos só precisa de ser à minha maneira e isso é coisa que cada um de nós sabe como fazer. um carro é apenas um meio de transporte não tem que ser um grande carro. tem que me levar onde quero e pronto. e por aí adiante. se tenho telemóvel é por necessidade. se não preciso nem o ligo como hoje. a Internet é o meu passaporte para o mundo. mas não preciso de renovar o guarda roupa a cada estação. afinal se mantenho o mesmo peso desde que me tornei adulta porque é que tenho que mudar a roupa... só se estivesse estragada ou não me sentisse confortável dentro dela. pois é "supertramp" é o que eu devia ter sido. mas se me perguntam se mudaria alguma coisa na minha vida respondo de caras não. de qualquer modo não percam "into the wild".

27 março, 2009

Little Girl Blue - Diana Krall (clica aqui)

No use old girl
You may as well surrender
Your hopes are getting slender
Why won't somebody send a tender blue boy
To cheer up little girl blue

A verdade unifica


Amigos, gostaria que soubésseis a Verdade e a dissésseis!
Não como cansados Césares fugitivos: Amanhã vem farinha!
Mas como Lenine: Amanhã à noitinha
Estamos perdidos, se não...
Ou como se diz na cantiguinha:

Irmãos, com esta questão
Quero logo começar:
Da nossa difícil situação
Não há que escapar.

Amigos, uma forte confissão
E um forte SE NÃO!

(Bertold Brecht)

o problema é a auência de cor


Lula da Silva diz que os culpados da crise são os banqueiros brancos de olhos azuis. sei o que quer dizer. e concordo com o que quer dizer. só que na verdade quem tem culpa da crise são banqueiros de cor. de cor duvidosa. se fossem realmente brancos resplandecentemente brancos não seriam banqueiros. o problema não é a cor branca Lula. o problema é a falta de cor. o problema não são os olhos azuis. o problema é que não são realmente azuis. como se estivessem cobertos por lentes de cor Lula. diz também Lula que nunca viu um banqueiro preto. julgo que os haverá... afinal o mundo é grande e África está cheia de corruptos. pretos segundo a tipologia de Lula gente de cor duvidosa segundo a minha. é verdade que não é nenhuma economia africana mesmo que em franca expansão que traz a crise ao mundo. nem sou especialista para afirmar com todos os s e r que os USA são os únicos culpados. afinal na Europa a coisa estava ela por ela. em Portugal não se aprende com o passado e cometem-se os mesmos erros. um banco é uma empresa. se está falido o governo socorre... porque é que não há-de fazer isso com cada uma das empresas em dificuldades? o princípio está errado. se está falido fecha e ponto final. recomeça com outro nome e noutros moldes. não se pode é estar a gastar dinheiro dos contribuintes a salvar bancos privados e deixar que o desemprego cresça a olhos vistos... por uma vez na vida será que faria mal que os ricos pagassem a crise em vez de os mesmos de sempre? ou seja Lula. o problema não é a cor. é não sabermos de que cor se trata.

26 março, 2009

La negra Tomaza - Compay Segundo (clica aqui)


Estoy tan enamorado de la negra Tomasa
que cuando se va de casa, triste me pongo
Estoy tan enamorado de mi negra preciosa
que cuando se va de casa triste me pongo

Mentir-me não adianta


Vieram hoje dizer-me
mentiras a meu respeito,
mas nunca podem esconder-me
o que lhes vai lá no peito.
Só quero hoje a verdade,
mais nua que ave perdida...
Os sinos tangem-me a idade
na alta torre da vida.
Mentiras, fora daqui!
Ide acampar noutra parte!
Existe um espelho que ri,
ao desnudar-vos com arte.
Palavras, gestos, partissem,
morressem antes do dia!
Humildes, se diluíssem
na madrugada bem fria.
Deixai-me as cordas do sino
de me sentir como sou.
Puxando-as, oiço o menino
que nas entranhas ficou.
Idade! Já tenho tanta!
Nasci num dia riscado
do calendário do Tempo.
O meu destino é dobrado,
mentir-me não adianta!
(Isabel Gouveia)

uma espécie de conselhos da revista "maria"... para o que havia de me dar!


é possível lidar com a infidelidade. é possível lidar com a traição. nada fica na mesma é certo. mas é possível quando há amor... o que torna tudo impossível pelo menos para as mulheres que põem acima de tudo a sua dignidade é a mentira. não é possível lidar com a mentira. é por isso que os homens devem aprender que se não querem perder uma mulher devem reconhecer imediatamente a traição quando confrontados com a verdade. é claro que isto não é tábua rasa. todos somos diferentes e estou convencida que há mulheres que preferem fingir ignorar as traições dos homens a confrontá-los. cada um sabe de si. cá por mim detesto mentiras. e é por isso que não perdoo mentiras. podem vir por aí dizer-me como já me têm dito que eu não tenho o poder de perdoar... e quem são esses que acham que o livre arbítrio não existe? aqueles para quem só o seu deus pode ou não perdoar... porque lhes dá jeito pois então. a mentira sobre uma infidelidade torna o acto inqualificável. como confiar em alguém que nos mente descaradamente? como conviver com alguém em quem não confiamos? o que fazer de 2=1 se não podemos mais confiar? é por isso que digo aqui hoje aos homens e mulheres que não devem mentir. há circunstancias da vida que podem levar os mais fracos a escorregar. se mentirem sobre o assunto tornar-se-ão ainda mais fracos. a única maneira de salvar algo da relação é contar a verdade no primeiro momento. nada ficará como antes. é verdade. mas pode ser que o que sobra ainda valha a pena. pode ser... não sei o que me deu hoje. desculpem lá o moralismo de trazer por casa. façam o que acharem melhor. acho que estou apenas a reagir retroactivamente. não liguem.

25 março, 2009

Wish You Were Here - Pink Floyd (clica aqui)

How I wish, how I wish you were here
We're just two lost souls
Swimming in a fish bowl,
Year after year,
Running over the same old ground.
What have we found?
The same old fears
Wish you were here

A parte invisível do visível


A parte invisível do visível.
De resto conhecer mais o quê?
O Manifesto do Invisível.
Os lobos são a cabeça do anjo que não se vê.
Sangue no Focinho e Cobardia.

(Gonçalo M. Tavares)

vão por mim


tempos houve e já não neste meu tempo em que até os ladrões tinham um código de honra. não se assaltavam operários por exemplo. e havia até certos dias em que era proibido roubar. hoje ninguém poupa ninguém. os velhos são sempre um alvo mais fácil dos ladrões e dos vigaristas. hoje um homem foi morto aqui bem perto de onde vivo. há anos que se sabe de assaltos e violações por aqui. um dos meus filhos por diversas vezes se bateu com bandidos com risco da própria vida porque não pode assistir a uma injustiça e ficar quieto. é das poucas pessoas que conheço que tem um código de honra. aliada a essa rectidão existe uma frontalidade e uma coragem que às vezes me deixam zonza. porque já não é comum... um dia destes a minha mãe foi assediada por dois homens. tem 84 anos e todos os problemas de saúde física e mental que são próprios dos velhos. e assim achou que um deles era um amigo de infância dos netos e o tipo aproveitou a boleia encarrilhou a conversa e estava prestes a fazer um belo negócio com ela. por € 175,00 vendia-lhe um relógio e ainda lhe oferecia outro igual e mais câmara de filmar. ela achou os relógios muito bonitos e pensou que como eu gosto de máquinas e de fotografia havia de gostar da daquela oferta. deixou-os à espera e veio a casa porque não tinha dinheiro com ela. felizmente o meu filho mais novo estava em casa e foi com ela. deu uma descasca nos fulanos que até já deixavam tudo de oferta não fosse o facto de ninguém aceitar. quando o meu filho perguntou ao mais novo se não tinha uma avó o outro respondeu sim tenho mas sabe tenho três filhos para criar... e vai daí vale tudo até tirar olhos... este retrato espalha-se por uma sociedade sem carácter nem moral para criticar seja quem for mas que é capaz de encher o peito de ar para atirar a primeira pedra. não é por se falar à porta fechada que se faz dos outros parvos. o mundo está cheio de chicos espertos. mas a maior parte deles é bem menos esperta do que julga. e não vale a pena alimentar ódios de estimação porque como diz o Alfredo é cá em baixo que elas se pagam. e não precisamos mover um dedo para ver o que acontece... nem esperar tempo demais. vão por mim que sei do que falo.

24 março, 2009

Sabroso - Compay Segundo (clica aqui)


la franqeuza vale mucho
y la mentira muy poco
si toma um malo camiño
un hombre se vuelve loco

Pergunta


Quem vem de longe e sabe o nome do meu lugar
e levou o caminho das conchas em mar
e dos olhos em rio
— quem vem de longe chorar por mim?

Quem sabe que eu findo de dureza
e condensa ternura em suas mãos
para a derramar em afagos
por mim?

Quem ouviu a angústia do meu brado,
sirene de um navio a vadiar no largo,
e me traz seus beijos e sua cor,
perdendo-se na bruma das madrugadas
por mim?

Quem soube das asperezas da viagem
e pediu o pão negado
e o suor ao corpo torturado, por mim?
por mim?

Quem gerou o mundo e lhe deu seu nome
e seu tamanho — imenso, imenso,
e em mim cabe?

(Fernando Namora)

fui trupelada na passadêra


ouço um toque de telemóvel algures e a movimentação de várias pessoas. não me movo . o meu está no bolso e o toque é um clássico de Chico Buarque. dificilmente no mesmo espaço haverá um telemóvel a tocar da mesma forma. começo então a ouvir nítidamente apesar dos auriculares nos ouvidos sim sou eu fui truperada no domingo dia 15. ia fazer umas compra no pingo doce quarquer cosa para cumê e sabes tá dificil e tava na passadêra ma foi mêmo de propósito me trupelaram na passadêra... tou no cumboiu fui a lisboa na segurador agora já não tem emprego da parede... sim da escora ainda tem emprego mas na parede já não tem mais... vem do segurador já cuntei-te fui trupelada mas foi mêmo de proposito assim em cima da passadêra. agora vem do segurtador em lisboa nã sabe cumu vai sê já não tem emprego da parede agora tá a ficar muito mar tinha ido cumprar quarquer côsa no pingo doce sabe cumu é. a gente tem que viver. fui no segurador ma nã me disseram nada. só fui assinar os paper. num sei se me vai pagar quarquer cosa que a mulhé que me tropelou em cima da passadera diz que num me viu... mas eu sabe ela fez mêmo de propósito. vida num tá boa e ainda por cima fui tropelada no domingo dia 15 já viste? num. já disse num tem mais emprego da parede num tem mais dinheiro para te emprestá. tem pacencia q'agora num tá a dá. já te disse. fui no segurador em lisboa... agora num sabe te dizê mai nada.

23 março, 2009

Intervalo - Perfume e Rui Veloso (clica aqui)

Vida à média rés,
Levanta os pés
Não vás em futebois, apesar…
Do intervalo, que é quando eu falo,
Para não me incomodar.

Verso vão


Onda de sol, verso de ouro,
perífrase vã. Extasiar-me,
antes, por esta fusão,
mistura de brilhos. Ou, ainda
mais íntima, a consciência
extensa como o céu, o corpo de tudo,
semelhança absoluta. Respirar
na quebra da onda. Na água,
uma braçada lenta
até ao limite de mim.

(Fiama Hasse Pais Brandão)

Gran Torino


uma estória sobre a realidade americana do século XXI. é assim que vejo Gran Torino o filme de Clint Eastwood para Clint Eastwood. um americano de origem polaca regressa da guerra da Coreia e constitui família. não consegue nunca relacionar-se com os filhos e netos. a mulher foi o seu único elo de ligação ao mundo real. trabalhou na Ford toda a vida e possui um Gran Torino de 1972 que cuida com amor e zelo e mantém fechado na garagem. após a morte da mulher ele é o único americano num bairro que se tornou numa espécie de chinatown e onde convivem como em todos os bairros gente boa e delinquentes. contra vontade acaba por fazer amizade com os vizinhos chinocas como lhes chama. em várias ocasiões é ele que os salva e após a tentativa de roubo do Gran Torino pelo elemento mais novo da família esta obriga o miúdo a redimir-se trabalhando de graça para o vizinho. o miúdo aprende tudo com facilidade e pouco apouco a desconfianças desfaz-se e surge uma bela amizade. condenado pela doença a uma morte breve tudo o que importa a Walt é a segurança dos seus novos amigos. e é para poupar Thao de cometer um crime ou de ser assassinado que o deixa fechado em sua casa e se apresenta de mãos limpas aos delinquentes que acabarão por crivá-lo de balas. no testamento nada deixa à família. vai tudo para a Igreja a mesma que ignorou a vida toda e que só frequentava para acompanhar a mulher. a Thao deixa o carro de sonho americano. Gran Torino. não direi que é um filme a não perder. mas vê-se muito bem. afinal é um típico filme americano cheio de lições de moral pelo meio que mal não fazem com certeza...

22 março, 2009

Sozinho - Caetano Veloso (clica aqui)


Às vezes, no silêncio da noite
Eu fico imaginando nós dois
Eu fico ali sonhando acordado, juntando
O antes, o agora e o depois
Por que você me deixa tão solto?
Por que você não cola em mim?
Tô me sentindo muito sozinho!

Amigo, a que vieste?


Onde foste ao bater das quatro horas
e, antes, quem eras tu, se eras?
Amigo ou inimigo, posso falar-te agora
sentado à minha frente e com os ombros
vergados ao peso da caneta?
Falo-te sobre a cabeça baixa
e vejo para além de ti, no horizonte,
teus riscos e passadas;
mas não sei onde foste, nem se eras.
Olho-te ao fundo, sob o sol e a chuva,
fazendo gestos largos ou só um leve aceno;
dizes palavras antigas,
de antes das quatro horas,
e nada sei de ti que tu me digas
dessa cabeça surda.
Não te pergunto pela verdade,
que pensas de amanhã ou se já leste Goethe;
sequer se amaste ou amas
misteriosamente
uma mulher, um peixe, uma papoila.
Não quero essa mudez de condolências
a mim, a ti, ou só à terra
que tu e eu pisamos — e comemos.
Pergunto simplesmente se tu eras,
quem eras, e onde foste
depois que se fizeram quatro horas.

Será que não tens olhos? Não tos vejo.
De longe em longe
agitas a cabeça, mas talvez seja engano.
Palavra, não te entendo.
Amigo, a que vieste?

(Pedro Tamen)

no aniversário da princesa



deixar primeiro que tudo uma nota sobre o post de ontem. afinal como supus que pudesse ter acontecido o papa não sabia da morte das(os) jovens angolanas(os)? quando se deu o encontro no estádio dos coqueiros. a culpa vai inteirinha para os responsáveis angolanos que o deixaram numa posição pouco cómoda. ainda bem. fico aliviada por as coisas se terem passado assim. ficaria com uma impressão péssima se o homem dos sapatos vermelhos tivesse seguido com o seu discurso como se nada tivesse acontecido sabendo o que acontecera. adiante. festejámos hoje o sétimo aniversário da Inês. ao contrário dos irmãos fez questão de o fazer em casa. e assim assistimos a várias manifestações culturais (teatro de sombras com estórias contadas pelos putos) e físicas (saltos na cama elástica para desfazer o almoço. até uma menina que estava muito mal disposta ficou bem disposta). a Inês feliz por receber a visita da Mariana que desde que se mudou para Évora com os pais vê muito pouco. continuam a ser as melhores amigas e dá gosto vê-las de mãos dadas o tempo todo. a Mariana que entretanto ganhou uma mana a Sara que nasceu em Janeiro e que conheci hoje. foi pois um dia bem disposto com o João a poder usar finalmente o seu "migalhães" que servirá também para me escrever cartas que enviará por email agora que já sabe todo o alfabeto e que acrescentou até um apelido ao seu nome em homenagem ao avô do coração que faz hoje anos. parabéns Américo. pelos 64 anos e pelo neto que lhe caiu assim dos céus sem mais nem menos. estamos todos de parabéns. por enquanto.

21 março, 2009

You Can Leave Your Hat On - Joe Cocker (clica aqui)

Go on over there
turn on the light
no all the lights
Come over here
stand on this chair
that's right
Raise your arms up to the air
no shake 'em

Das águas que o rino escolhe


Das águas que o rino escolhe
da pedra a que o vento encosta
do unto a que o tempo obriga

dos sais que a estação abriga
do pasto a que o gado aspira
da lua em que o vento vira

Não há pastor que não saiba.

Não há pastor que não saia de alguma curva da infância.

(Rui Duarte Carvalho)

apenas um incidente


duas jovens morreram hoje em Luanda. quer dizer duas jovens morreram porque queriam ver o papa. não sei exactamente quantas jovens morreram hoje em Luanda por outras causas tais como parir abortar assassinato maus tratos hiv fome desidratação... essas não são nunca foram notícia.nem mesmo quando Angola era portuguesa. pelo menos aqui em Portugal isso não é notícia. suponho pois que lá também não seja. mas fico um bocado magoada por ouvir falar de uma facto destes como de um "incidente". duas jovens morreram outros 50 ficaram feridos mas que é isso perante o representante de deus em Angola? será que ele soube? é que não ouvi uma única palavra a esse respeito mas também sei que a imprensa só passa o que lhe interessa e embora não simpatize com o homem dos sapatos vermelhos tenho que lhe dar o benefício da dúvida. é que as cerimónias continuaram tal como estavam programadas numa falta de respeito a meu ver pelas vítimas. será que ninguém serrá responsabilizado por estas duas jovens mortas com uma vida inteira pela frente por uma organização que não se preocupou com o bem estar das pessoas que ali estavam manifestando uma fé que confesso a mim me encanta. a mim que sou ateia e essa é a minha religião comove-me a fé das pessoas. é como se visse crianças encantadas com um mágico. será que o pais ainda não se desabituou da morte... é claro que não que parvoíce a minha! um país que continua pejado de minas que podem explodir a qualquer instante debaixo dos pés de uma qualquer criança não se pode mortificar porque duas jovens morreram espezinhadas por uma multidão que corria para ver o homem dos sapatos vermelhos... uma multidão ansiosa por boas notícias que não quer saber se morreu mais uma pessoa ali naquele momento... afinal de contas o homem dos sapatos vermelhos e apenas ele tem que ser preservado. todos os cuidados se viraram nesse sentido. o povo? que se lixe o povo. está ali apenas para fazer a festa.

20 março, 2009

Espalhem a Notícia - Sérgio Godinho (clica aqui)

Espalhem a notícia
do mistério da delícia
desse ventre
Espalhem a notícia
do que é quente
e se parece
com o que é firme
e com o que é vago
esse ventre que eu afago
que eu bebia de um só trago
se pudesse

Certas palavras


Certas palavras não podem ser ditas
em qualquer lugar e hora qualquer.
Estritamente reservadas
para companheiros de confiança,
devem ser sacralmente pronunciadas
em tom muito especial
lá onde a polícia dos adultos
não adivinha nem alcança.

Entretanto são palavras simples:
definem
partes do corpo, movimentos, actos
do viver que só os grandes se permitem
e a nós é defendido por sentença
dos séculos.
E tudo é proibido. Então, falamos.

(Carlos Drummon de Andrade)

ser um ouvido simplesmente


quando me ligou avisou que era a rapariga mais feia da turma. com certeza que eu conhecia. respondi que não. não me lembrava nem de 1/3 das caras da turma. tínhamos apenas três disciplinas em comum e para além disso eu tinha sido "pescada" pelo grupo indisciplinado do fim da turma. mal conhecia os rapazes quanto mais saber quem era a rapariga mais feia da turma... olhando hoje para a turma reconheço que continuo sem me lembrar de grande parte das caras. adiante. que precisava muito de falar comigo. não sabia porquê mas confiava em mim. estaria eu disposta a encontrar-me com ela na "zarolha" no dia seguinte? disse que sim. combinámos uma hora e lá estava eu tomando a minha italiana à espera de uma rapariga que se achava feia. quando ela chegou achei que tinha razão. quer dizer. não sabia se era a mais feia da turma. mas era bastante feia. cara deslavada cabelo espetado tipo ouriço mamas enormes num corpo de metro e meio assim a dar para o quadrado. sentou-se e começou a contar-me o que a afligia. desde menina que sonhava ser parecida com a Marilyn mas à medida que o tempo passava olhava-se ao espelho e cada dia se achava mais feia. lá a fui animando conforme pude. disse-lhe que afinal não havia nada que não tivesse remédio. se era certo que jamais seria a diva poderia arranjar os dentes outro corte cabelo roupa mais larga para disfarçar a enormidade do busto... ficámos amigas. ia muito a casa dela que ficava numa travessa mesmo junto à casa do PR em Belém. de repente a minha vida deu uma volta e nunca mais soube dela. se ao menos me lembrasse do nome. mas só do primeiro e esse é demasiado vulgar. tenho até várias amigas com o mesmo nome. hoje lembrei-me dela porque ao longo da vida têm surgido na minha vida algumas pessoas que não me conhecendo de lado algum me abordam e falam das suas angústias. hoje foi um colega de trabalho que eu conhecia apenas de vista. abordou-me na passagem subterrânea de Entrecampos e estive a ouvi-lo algum tempo. vai-se embora este mês para outro lado. não se sentia bem ali. senti-me outra vez como um ouvido. tomara que tenha mais sorte para onde vai. e que não tenha que sofrer na pele a frustração de certa gente que devia era estar em casa em vez de exercer pequenas ditaduras nos seus locais de trabalho. boa sorte colega. pode ser que ainda voltemos a falar. para a semana... logo se verá. é que a bem dizer nunca te vi falar com ninguém...

19 março, 2009

Father and Son - Cat Stevens (clica aqui)

It's not time to make a change
Just sit down and take it slowly
You're still young that's your fault
There's so much you have to go through
Find a girl, settle downIf you want, you can marry
Look at me, I am old
But I'm happy

O nome de Laura


O tronco que em abril de folhas
viste coberto, e onde teu nome foi gravado,
Laura, logo o verás nu, desfolhado,
que à inclemência do tempo não resiste.

Virá dezembro - e a sua bruma triste
há de envolve-lo, e o deixará gelado,
e ao frio vento norte, desgalhado
talvez se abata, a então nada subsiste.

Templo mais forte que o teu nome leve
onde não haja vento frio, e aquele
rude inverno que a cobre em branca neve

será meu coração que, humilde, em rogo
te pede que o aceites, Laura, e nele
graves teu nome com buril de fogo!

(Ventura de la Vega)

no teu dia. pai


sentaste-te ao meu lado encostei a cabeça no teu ombro e juntos assistimos ao Marília Gabriela Entrevista. a convidada era só a famosa Hebe Camargo a mais antiga jornalista em exercício do mundo. o programa foi gravado no dia da mulher. no dia em que Hebe fez 80 anos. e enquanto conversavam tu olhavas-me e dizias vês... tu também és assim. tomara que tenhas razão pai. tomara que eu chegue aos 80 anos sem parar de sonhar. tomara que eu recorde tão claramente todos os momentos da minha vida. tomara que eu tenha o atrevimento de Hebe quando diz que Roberto Carlos lhe dá tesão. tomara que nessa idade ainda possa dizer que o Chico Buarque me dá tesão. tomara também que mantenha a lucidez de dizer que não acredita que pudesse ser feliz com um homem de 30 anos. por muito que ele a amasse. eu também acho Hebe. mas olha que era capaz de dar uma voltinha com o garoto. ai era era... afinal como num email que hoje li o homem é como a batata quando novo se descasca quando velho só a murro. que me perdoem os meus amigos (só os mais velhos) que são quase todos homens mas lá que o email tinha graça lá isso tinha. e também muito de verdade pelo menos a julgar pela minha experiência de vida. de qualquer modo o que importa é que estivemos juntos de mãos dadas a rir como duas crianças enquanto a Marília tentava tirar nabos da púcara da Hebe e esta tendo a mesma profissão e mais 20 anos em cima lhe dava a volta quando e como queria... e foi bom pai este dia em que vieste ter comigo. foi bom pai. pouco depois de saíres recebi um sms da minha esteticista que não chegaste a conhecer. a bebé dela a Laura nasceu. hoje dia do pai. um belo presente para o pai Luís. um belo presente para a Ângela. um belo presente para o mundo. hoje que foi o teu dia. pai.

18 março, 2009

Paulo Gonzo - Quase tudo (clica aqui)

Foste entrando sem pedires
E marcaste os teus sinais
Tatuaste a minha vida
Ferro e fogo e muito mais
Vasculhaste os meus segredos
E eu deixei
Sem reservas nem pudor...

Ronda


Na dança dos dias
meus dedos bailaram...

Na dança dos dias
meus dedos contaram
contaram, bailando
cantigas sombrias...

Na dança dos dias
meus dedos cansaram...
Na dança dos meses
meus olhos choraram

Na dança dos meses
meus olhos secaram
secaram, chorando
por ti, quantas vezes!

Na dança dos meses
meus olhos cansaram...

Na dança do tempo,
quem não se cansou?!

Oh! dança dos dias
oh! dança dos meses
oh! dança do tempo
no tempo voando...

Dizei-me, dizei-me,
até quando? até quando?

(Alda Lara)

os do meu prédio parte dois


pelo apartamento ao lado daquele em que vivemos durante 8 anos passou muita gente. uns traziam estórias para contar. outros saíram e deixaram estórias. que vou contando. quem passou por lá a certa altura foi um casal com duas filhas mais novas que eu e com uns olhos de meninas reguilas. na verdade eram muito engraçadas e levadas da breca. o pai era mecânico e amante da caça. a mãe era dona de casa como a maior parte das senhoras que conheci em Luanda. eram ambos bastante altos e ela era até uma mulher forte. não me lembro de a achar bonita mas às filhas sim. o pai também não tinha nada de extraordinário. era apenas um homem alto e bem educado mas que não trocava mais do que um bom dia ou boa tarde com os vizinhos. as miúdas sim... visitava-os diariamente um amigo que era baixo. muito baixo e muito magro. eu era muita garota na altura mas lembro-me de me referir a ele como o "homenzinho". pois o homenzinho costumava ir à caça ao fim de semana com o amigo mecânico. em casa ficavam a mulher e as pequenas reguilas. mas um dia o homenzinho arranjou uma desculpa e não foi à caça. o mecânico pelo contrário lá foi. talvez porque estivesse sozinho decidiu voltar para cada mais cedo que o habitual e já estão a adivinhar. na sua cama ao lado da mulher dormia o homenzinho. não houve escândalo público. o homenzinho saiu de casa levantado em peso pelo amigo que o depositou à porta da rua com um valente pontapé. a mulher fez as malas e silenciosamente saiu de casa deixando as filhas com o marido. poucos dias depois assistíamos à mudança de casa do mecânico com as filhas. os troféus de caça espalhavam-se pelo corredor do prédio à espera de serem carregados. entre eles havia uma bela cabeça de veado. que enquanto ali permaneceu foi cumprimentada pelo meu irmão várias vezes com um muito sério "muuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuum". nunca mais soubemos nada daquela gente. e eu fiquei com pena de perder a companhia das pequenas reguilas.

17 março, 2009

Essa Moça Tá Diferente - Chico Buarque (clica aqui)

Mas o tempo vai
Mas o tempo vem
Ela me desfaz
Mas o que é que tem
Se do lado esquerdo do peito
No fundo, ela ainda me quer bem

Essa moça é a tal da janela
Que eu me cansei de cantar
E agora está só na dela
Botando só pra quebrar


Quando deponho sobre os teus dedos


Quando deponho sobre os teus dedos de frio
uma mão de grinalda e de sonhos
vejo o amanhã inscrito nos teus olhos.
(Armando Artur)

não há pão para malucos


hoje apetecem-me temas mais leves. talvez seja do calor. assim como nos exige roupas mais leves também exige assuntos menos sérios. e já que este bom tempo afinal não veio para ficar vamos aproveitar enquanto se mantém. vou contar-vos um segredo que só é conhecido das pessoas que me são muito próximas portanto duas ou três. herdei do meu pai a mania de botar alcunhas nas pessoas. quer dizer. se vejo alguém que tem um pormenor qualquer que me chame a atenção e me faça lembrar alguma coisa ocorre-me imediatamente uma alcunha e é assim que passo a designar essa pessoa. curioso é que não me lembro de ter posto alcunha em algum amigo meu... porque será? provavelmente algum mecanismo cerebral que desconheço. adiante. todos os dias me cruzo com o "matraquilho" o "frankenstein" a "desenho animado" a "cresce mas é para trabalhares como as pessoas"... e outros que vejo menos como a "comprida" ou a "a galinha". esta coisa de as pessoas me lembrarem nomes dá-me gozo. para terminar vou contar que um director de serviços do meu pai foi apelidado de "grande chefe cara torta". acho que ninguém poderá negar a graça deste nome . pois bem. um dia alguém resolveu inventar um torneio de futebol entre vários serviços. um dos colegas do meu pai que estava à frente da iniciativa foi falar com o "grande chefe cara torta" a ver se ele dispensava a equipa de futebol uma hora por dia para treinar. e o homem fez jus ao seu nome e respondeu "um torneio de futebol é? pois primeiro jogo primeiro treino que aqui não há pão para malucos"...

16 março, 2009

Cara de anjo mau - Jorge Palma (clica aqui)

Por ti mandava arranjar os dentes e comprava um colchão
Por ti mandava embora o gato por quem tenho tanta afeição
Por ti deixava de meter o dedo no meu nariz
Por ti eu abandonava o meu País

Cara de anjo mau, tu deitas tudo a perder
Basta um olhar teu e o chão começa a ceder
Cara de anjo mau, contigo é fácil cair
Quem te ensinou a ser sempre a última a rir?

Desculpa-me a ternura


Enternece-me pensar que estás aí,
não força de trabalho desigual
nem vida à pressa,
mas minha amiga.

Talvez as palavras que te digo
me transpareçam classe,
talvez nem te devesse dizer nada.
Porque és a mão que ampara o meu silêncio,
a minha filha, o meu cansaço
— à custa do teu cansaço, da tua filha,
do teu silêncio.

Não há homens-a-dias neste mundo,
mas tantas como tu,
a segurar nas mãos e no sorriso
algumas como eu.

Entraste há pouco a perguntar
se eu tinha febre
— a louça por lavar nas tuas mãos,
aspirando o cansaço dos meus ombros,
nos teus ombros o cansaço de mim
e o cansaço de ti.


Desculpa os meus silêncios,
o falar-me contigo como com mais ninguém,
desculpa o tom sem pressa
— e o meu dinheiro que não chega a nada,
comprando o teu trabalho
(o teu sorriso)

(Ana Luisa Amaral)

um dia destes volto a falar do tabu que não existe senão nas cabeças de alguns


acabei de ler "olhos nos olhos". gostei tanto que vou comprar mais livros do Júlio. afinal não era à toa que eu gostava do homem. é bonito interessante charmoso inteligente bom conversador e entende a alma feminina. tanto que escreve o livro na primeira pessoa do feminino. mas a estória mais louca é realmente Madame. as paixões entre pessoas do mesmo sexo sempre me fascinaram e sempre achei que o ideal seria que fôssemos bissexuais. porque como posso falar de algo que não conheço mas apenas imagino? posso aqui com certeza ofender os homens gay se disser que compreendo melhor o amor entre duas mulheres que entre dois homens. não sou capaz de explicar muito bem mas acontece que o que eu acho que falha nos homens é sobretudo a falta de sensibilidade. educaram-nos para serem machos e eles abafaram desde putos tudo o que havia de mais feminino dentro de si. não é a educação que os pais dão apenas é o mundo que nos rodeia. se um menino tem uma sensibilidade feminina que se atreve a mostrar é logo apontado pelos outros. lembro-me de um amigo de infância a quem a mãe de tanto desejar e esperar que ele tivesse nascido menina o tratava como tal. na minha rua só havia rapazes da minha idade para brincar. eu não brincava com bonecas mas às guerras e às corridas. o único rapaz que se interessava por bonecas era este menino. pois bem. fez-se um homem e continuou a ser lindo de morrer. de gay que eu saiba não tem nada. suponho que não preciso explicar porque digo "que eu saiba". infelizmente ainda nos nossos dias as pessoas ainda têm na maioria das vezes que esconder as suas opções sexuais se não quiserem ver as suas vidas "trituradas" pela má língua. e optam por antes ser que parecer. este assunto dá pano para mangas e por isso o melhor é ficar hoje por aqui mesmo e voltar à vaca fria um dia destes...